Pet é bom e criança gosta

A psicologia e a medicina veterinária explicam como se dá a relação entre a criança e os animais de estimação

A inteligência emocional é o termo é utilizado para medir as habilidades de convívio com o próximo e a forma de lidar com adversidades. Na infância, fase em que é construída, a companhia de um pet pode ser estratégica. Os benefícios, conforme explica a psicóloga Karla Cerávolo, vão desde o âmbito social ao aspecto cognitivo e afetivo da criança. O convívio com um animal pode ser um ensaio para as relações com o outro no futuro. Da mesma maneira, pode ser bom para os bichos de estimação a convivência com os filhotes de humanos.

“Os benefícios são muitos e podem ser socias, cognitivos e afetivos”, explica a psicóloga. A médica veterinária Patrícia Lorena, doutora em Ciência Animal, explica também que, antes das consequências para as relações humanas, a relação com o pet pode ir melhorando conforme sua proximidade aumenta. “A relação entre a criança e o animal de estimação vai ajudá-la a criar empatia e a conseguir detectar as necessidades do animal”, elucida. 
A criança que tem convívio com um animal de estimação sabe, com mais facilidade, pela experiência, o que pode machucar e o que causa dor no outro. Por esses motivos, para além do convívio, é importante que a criança tenha responsabilidades com o pet. As obrigações vão desde colocar água a abastecer o recipiente de comida e dar banho. Os afazeres podem aumentar de acordo com a faixa etária. “Se a criança tem 2 anos de idade, por exemplo, ela já pode pegar um copo com água para colocar no lugar onde o animal bebe”, exemplifica Karla. 
A psicóloga ressalta, ainda, a importância de o adulto dividir as tarefas com a criança. Não pode nem acostumar a criança que só o adulto faz as coisas, como não pode sobrecarregá-la. Para ela, esse convívio só tem pontos positivos, a não ser por algum problema de saúde que pode aparecer, mas, para isso, é necessário estar atento ao calendário de vacinas de ambos e à higiene dessa convivência.“Os pais devem sempre estar incentivando a criança a realizar essas atividades, com isso a presença do animal, no lar, irá exercer um papel de desenvolvimento de responsabilidades e habilidades dos filhos”, ressalta a veterinária. 
O que ela levanta é crucial para esse processo de delegações de tarefas. A psicóloga também dá destaque à necessidade de sempre lembrar a criança das obrigações que tem que cumprir e de seus compromissos para com o pet. Com isso, o indivíduo aprende, também, os limites, o que está hábil a fazer ou não conforme sua idade.
“Essas responsabilidades também ajudam a criança a desenvolver habilidades psicomotoras. Há exemplos de crianças que engatinham mais cedo, quando existe um animal em casa, porque veem o bicho correndo em quatro patas e querem acompanhar”, exemplifica Karla. Entretanto ela ressalta que esse estímulo pode vir de outro tipo de referência, que não o pet. Mas o fator principal  – e que não pode ser esquecido nesta matéria – nesse convívio é o amor. Para a veterinária Patrícia, “à medida que esse laço afetivo vai se estreitando, a criança começa a perceber que ela é importante para esse bichinho, que é amada incondicionalmente por ele e que ele se agrada com seus cuidados e gestos de carinho”.
Por conta dessa relação, as crianças também aprendem a respeitar as diferenças, conforme explica a psicóloga. Além disso, elas conseguem ser mais compreensivas e tolerantes. O amor desenvolvido entre eles também colabora para acalmar a criança. “Acalma por causa do carinho, da questão de parar para cuidar, o nível de ansiedade cai”, explica Karla. A veterinária lembra que “os pets também são beneficiados quando se sentem queridos, amados e recebem carinho”. Essa relação pode ser educativa desde as fases iniciais de vida do animal até o fim dela.
Justamente por causa desse laço afetivo é que, quando o animal morre, é preciso que os responsáveis saibam como lidar. “Muitos pais infantilizam a morte, dizem que o bichinho foi para o céu e não deixam a criança sentir o luto”, exemplifica a psicóloga. Esse tipo de atitude não é boa para a criança. “É preciso que deixe o filho ou a filha sentir a tristeza da morte sem banalizar, porque senão ela não entende a morte corretamente”, explica. Ou seja, comprar um animal uma semana depois da morte do primeiro é uma ideia equivocada. De acordo com Karla, deve haver um intervalo de pelo menos três meses entre um bichinho e outro. Também é um equívoco tentar diminuir a dor da criança. “Não era só um cachorro, não é bom dizer isso para a criança, era alguém importante para ela, não é bom menosprezar isso”, explica, ressaltando a importância disso para o amadurecimento do indivíduo.

A raça certa 
A Dra Patrícia Lorena nos deu um levantamento das carecterísticas adequadas dos pets para cada faixa etária. “A principal dica é que cães destinados ao convívio direto com crianças sejam de raças pouco agressivas, e principalmente, bem educadas”, lembra. Isso deve ajudar na hora de escolher uma raça de cão ou gato para seu filho ou filha.
“Para bebês e crianças muito pequenas, são recomendadas raças mais leves, mais delicadas ou animais de porte maior que sejam mais calmos, como por exemplo, boxer, beagle, labrador, golden retriever, dinamarquês e pug”. Mas é importante dedicar-se à educação desse animal logo nos primeiros seis meses de vida. “Se a sua escolha for um gatinho, os siameses, os persas e os sem raça definida são excelentes companheiros para crianças”, acrescenta.
Outra dica é com relação à saúde física: “É necessário atenção à saúde dos pais do animal e sua procedência.Verifique se as vacinas e desverminações indicadas para a idade já foram realizadas e se o bicho e seus pais têm aspecto saudável”. Quanto à saúde comportamental, ela indica conhecer bem sobre a raça antes para evitar abandonos – que nunca deve ser uma opção. “A aquisição de um pet deve ser planejada e analisada por toda família, pois,  além de proporcionar benefícios para a família, eles são seres dependentes que precisam de cuidados e atenção”, finaliza.